A Biblioteca Nacional de Brasília (BNB) recebe um evento de tirar o sono no próximo dia 31, data do Halloween ou Dia das Bruxas; também Dia do Saci, instituído em 2003. Trata-se da primeira edição do “Terror Literário”, encontro de escritores do gênero, que vão ler contos e trechos de trabalhos próprios. A iniciativa é fruto de parceria do equipamento da Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec) com o Instituto Fazer o Bem e o Sindicato dos Escritores.

 

“Essa ação valoriza a literatura brasiliense, seus escritores e escritoras, e marca a presença da nossa maior biblioteca pública numa data que caiu no gosto popular”, destaca a diretora da BNB, Marmenha Rosário. “Apresentaremos um recorte singular da produção brasiliense desse gênero literário, que está efervescente no Brasil”, observa Marcos Linhares, escritor e presidente do Fazer o Bem, à frente ainda do Sindescritores.

 

Logo após o cair da noite de terça-feira, às 19h30, com entrada gratuita, os apaixonados por histórias assustadoras ou quem quiser conhecer e se arrepiar com o suspense do gênero literário poderão, após as leituras, participar também de bate-papo, sessão coletiva de autógrafos e sorteio de livros.

 

Autores/autoras
Dez autores já confirmaram presença no “Terror Literário” – Bruna Presmic, Bruno Bucis, Carol Castro, Gilbson Alencar, Gustavo Cordeiro, J.P. Silva, Marcelo Araújo, Rodrigo Duhau, Sarah Schmorantz e Clinton Davisson Fialho.

 

“Sempre fui fascinado por histórias de terror. Na escola tinha medo de ir ao banheiro sozinho devido à ‘mulher algodão’ [como se referiam ao receio da aparição de mulher com algodão no nariz]. Era medo misturado a certo prazer”, relata Clinton, que trabalhou como repórter policial em Macaé (RJ) durante dez anos.

 

“Lá é violento, e muita coisa que vivenciei naquela época guardei para mim, pensando em exorcizar escrevendo”, diz o escritor nascido em Volta Redonda, também no Rio, e que acaba de lançar o livro “Baluartes, terra sombria”, finalista do prêmio Argos deste ano na categoria melhor romance. Clinton está terminando um conto de terror e vai lançar um livro sobre sacis.
A sinopse de “Baluartes” o situa no Brasil Colônia dos anos 1780, quando “as fronteiras com o mundo sobrenatural ainda eram frágeis, e criaturas como saci, curupira, mula sem cabeça e cuca eram relatos de quem viveu o terror na sua forma mais pura”.

 

A mestre em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Amanda Leonardi, também escritora de ficção, distingue terror e horror, frequentemente confundidas como sinônimos: “terror é relacionado ao medo psicológico, à ameaça de perigo, à aflição, ao temor, enquanto o horror ocorre quando temos uma repulsa a algo grotesco, mais gráfico, geralmente envolvendo sangue, violência, é quando a expectativa do terror já foi superada, e não há mais nada a ser feito: os sentidos, antes aguçados, em alerta, ficam então congelados, sem reação”.

 

Histórias sombrias
Bruna Presmic, confirmada para o encontro de Halloween, fala de seu trabalho: “escrevo desde os 16 anos. Quando minhas histórias nascem, elas são sombrias. Por mais que eu tente escrever sobre outras coisas, são os contos infelizes que brotam das minhas palavras”. Ela cita como minhas inspirações Edgar Allan Poe, Mary Shelley, H.P. Lovecraft e Guillermo de Toro.
Ela comenta que o gênero de terror, tanto na literatura quanto em outras modalidades, como nos filmes “slashers” (tipo o “Massacre da Serra Elétrica” entre tantos títulos que marcam principalmente a década de 90 do século passado), enfrenta preconceitos e estereótipos que afetam sua aceitação. “Apesar desses preconceitos, o gênero pode ser uma forma poderosa de explorar questões sociais, psicológicas e existenciais”, defende. Linhares concorda com ela e estende esse preconceito também à literatura erótica.

Em seu livro “Contos Sombrios Sem Final Feliz”, Presmic discorre sobre a solidão em seis contos. A obra saiu pela Editora Tagore, em 2023. Bruna vai ler o conto “A menina do Bordado”. “Minha expectativa sobre o encontro é levar literatura de Brasília ao público, causar incomodo com histórias de terror e conversar muito sobre livros”, revela a escritora nascida em Brasília em 1982, formada em jornalismo.

 

Outro brasiliense, nascido em 1998, o professor de inglês, músico e escritor J. P. Silva afirma que, em suas obras, é comum a mistura entre o real e o fantástico. Ele destaca em sua produção recente o romance “O Paraíso dos Pássaros” e o livro de contos “Garrafa!”.

 

“Gosto de explorar a angústia humana. Pergunte a qualquer um que sofre de ansiedade, e ele lhe apontará a própria mente como o seu maior inimigo. O terror vem de dentro. Externalizamos os fantasmas que habitam em nós. Não é de surpreender nossa tendência em projetar no outro esse inimigo interno. Assim nascem monstros e demônios”, elabora.
Bruno Bucis se apresenta como um escritor e jornalista da periferia de Brasília.. É mestrando em literatura latino-americana na UBA (Universidade de Buenos Aires). Apresenta um podcast de crítica literária, o livrAL, dedicado aos livros latino-americanos contemporâneos. Na literatura, seu primeiro livro, “Noites de Sol”, foi lançado em 2017 pela Tagore. No ano seguinte, a novela inédita “Brigue como um morto” foi obteve o 2º lugar em edital do Ministério da Cultura.

 

“Eu pesquiso terror há três anos e tenho me identificado cada vez mais com essa linguagem. Estamos vivendo um boom muito interessante da literatura de terror na América Latina e vários escritores da nossa região se tornaram lidos no mundo inteiro, trazendo a mitologia daqui para narrativas contemporâneas e inovadoras”, diz Bruno.

“O Dia das Bruxas não é uma tradição exterior, o fim do mês de outubro e início de novembro abrigam reflexões sobre a morte e a espiritualidade em diversas culturas, inclusive na nossa, que celebra Finados no dia 2”, lembra ele. Em 2022, Bucis foi selecionado pela Incubadora DAO-Portugal para uma residência de escrita.

 

Terror real
Carol Castro apresenta-se como “uma internacionalista brasiliense que despertou no mundo da escrita a partir de rascunhos sobre bruxas que criou na adolescência”. É admiradora dos escritos de terror de expoentes como H.P. Lovecraft, Stephen King, Edgar Allan Poe, J.K. Rowling e J.R.R. Tolkien, a maioria dos quais com livros presentes no acervo da maior biblioteca pública do DF. A BNB também guarda em sua coleção de mangás e HQ trabalhos de inspiração lúgubre.

Ela tem minicontos de terror e mistério publicados em antologias, escritos sombrios publicados no WattPad e um perfil literário no Instagram, onde fala sobre seus escritos e leituras atuais. É autora dos livros “Lina”, um romance do gênero terror contada na serra catarinense, e “Cemitério Envidraçado”, uma novela do mesmo gênero contada no cemitério de Brasília.
Em tempos em que o terror volta a mostrar sua face cruel na Faixa de Gaza ou em ataques a escolas, a brasiliense deixa no ar um convite à reflexão: “o terror literário é um entretenimento que nos tira da rotina. Carrega em si a certeza da natureza assustadora e implacável do desconhecido. A interface desse tipo de literatura com o mundo real é que um reflete o outro. O mundo real parece inspirado nas histórias de ficção, e a ficção muitas vezes é replicada no mundo real”.

 

Serviço
“Terror Literário”Leitura, bate-papo, autógrafos e sorteio de livros sobre literatura de terror
Terça-feira, 31 de outubro, às 19h30
Biblioteca Nacional de Brasília (BNB)
Entrada gratuita
Mais informações no Instagram @insfabem
Perfil de escritores citados (@sou_carol_castro; @clintondavisson; @presmic; @jpsilvaescritor; @escritorbrunobucis)

Fonte: SECEC