Depois de dar uma força, desde outubro, na preparação de candidatos e candidatas aos processos seletivos do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), do PAS (Programa de Avaliação Seriada) e do vestibular da Universidade de Brasília (UnB), agora é a vez dos idosos de receberem um incentivo das maiores bibliotecas públicas da capital federal para uma oportunidade inédita!
A Biblioteca Nacional de Brasília (BNB) e a Biblioteca Pública da Ceilândia vão oferecer aulões de redação para os vestibulandos com 60 anos ou mais a uma das 136 vagas em 37 cursos de graduação distribuídos pelos quatro campi na prestigiosa universidade pública.
Com ingresso já no primeiro semestre do próximo ano, a iniciativa, “60mais”, faz parte da “Política do Envelhecer Saudável”, resolução da Câmara de Direitos Humanos da UnB. O provimento das vagas será feito por meio de prova de redação em português, em caráter classificatório e eliminatório. As inscrições no site da UnB vão até as 16h de 10 de janeiro. A prova está marcada para o dia 28 de janeiro, um domingo.
“Formei-me na UnB, e essa iniciativa me enche de orgulho. Nosso apoio ao público idoso não poderia faltar. Trata-se de uma ação inclusiva do maior mérito”, ressalta a diretora da BNB, Marmenha Rosário.
O aulão de redação vai ser no dia 19 de janeiro, das 14h30 às 17h na Biblioteca Nacional de Brasília e nos dias 17 e 18 de janeiro, das 19h30 as 22h, na Biblioteca Pública de Ceilândia. “Vamos dar uma aula mais voltada para a redação nos moldes do vestibular da UnB”, explica a professora e dona de cursinho, Paula Monteiro, formada em Letras na universidade criada por Darcy Ribeiro.
Ela vai trabalhar o texto dissertativo-argumentativo. “A redação precisa ter coesão, coerência e um bom planejamento estratégico. Saber como organizar as ideias do vestibulando será o principal objetivo da aula. Aprender a se organizar antes de escrever”, adianta ela.
A Professora e recursista Kássia Braga, que ministrará as aulas na Biblioteca Pública da Ceilândia é especialista em Língua Portuguesa, com atuação em cursos preparatórios para concursos.
Sonho
A agente da Mala do Livro, programa de extensão do GDF de empréstimos de obras de literatura e de livros didáticos nas regiões administrativas e entorno, Marluce da Silva Franklin, de 60 anos, moradora de Sobradinho II, vai tentar uma vaga em Biblioteconomia.
“Cursar Biblioteconomia na UnB sempre foi sonho, mas não dava tempo de estudar porque eu tinha de correr atrás dos alimentos, passar valores e educar os filhos”, conta Marluce. Vítima de violência doméstica, ela conseguiu se separar do marido e ficou com os seis filhos do casal, ilustrando o triste destaque do DF em agressões a mulheres.
Com os filhos hoje criados, Marluce luta agora contra um câncer, que acredita que também vai derrotar. “Você não sabe quanto bem me fez a notícia desse vestibular. Me deu uma animada. Estou muito grata à UnB e à BNB, que vai nos proporcionar o curso de redação”.
Natural do Rio de Janeiro e radicada em Brasília, Marluce começou a emprestar obras pela Mala do Livro em 1993, três anos depois do surgimento do programa que já correu mundo com sua ideia simples e transformadora.
“Sobradinho II era um local extremamente violento. Muitos jovens, muitos adolescentes morriam, às vezes todos os dias. Me incomodava, me entristecia de um jeito! Queria fazer algo que ajudasse de alguma maneira a evitar uma morte. Eu sabia que a leitura e o conhecimento têm esse poder”, relembra.
“Tenho 60 anos, estou cheia de netos, e meus sonhos não morreram, continuam aqui, no meu coração. Estou irradiando alegria”, declara. Essa alegria também decorre de ela ter lançado na recente Feira do Livro de Brasília, em sua 37ª edição, seu trabalho “Breno, um garoto muito sonhador”.
Produção independente, o livro conta a história de uma criança que achou alento na imaginação para superar sua realidade de vulnerabilidade. Um grupo de amigos se reuniu para fazer uma tiragem de 100 exemplares, com direito a venda e sessão de autógrafos.
Fonte: SECEC