A montanhista e empreendedora social Aretha Duarte disse que usou o preconceito e racismo estrutural que sentiu como moradora da periferia de Campinas (SP) como motivação enquanto escalava o Monte Everest, no Nepal, sendo a primeira negra e latino-americana a chegar ao pico, localizado 8 848,86 metros acima do nível do mar. 

“Existiu sim um racismo estrutural e por causa disso eu ficava cada vez mais motivada a escalar essa montanha [Everest], no sentido de se tornar uma representação, no sentido de não ter sido apenas a primeira, mas que seja a primeira de muitas”, disse Aretha. A montanhista também deseja um maior número de mulheres e de negros montanhistas e escalando montanhas no Brasil e no exterior. “Apesar de todos os esforços eu queria ver cada vez mais mulheres nesses ambientes, ver mais pessoas pretas nesses ambientes”.

Aretha foi a entrevistada desta segunda-feira (5) do programa Sem Censura da TV Brasil e faltou sobre os desafios que enfrentou para chegar ao cume do Monte Everest; seu maior desafio durante a escalada, que foi a saída do campo 4 em direção ao cume; a zona da morte nas escaladas em montanhas de grande altitude; particularidades do Everest, como o turismo, o lixo e acidentes e sobre conscientização ambiental.

A empreendedora social trabalha em uma operadora de montanhismo em Campinas (SP) e começou com o montanhismo há nove anos. Ela conta que, até chegar ao Everest, adquiriu as experiências necessárias de escalada em rocha, escalada em gelo e um excelente condicionamento físico. “Quando eu determinei que ia escalar essa montanha, que foi em março de 2020, eu precisei apenas fazer a manutenção desse condicionamento.” E, é claro, precisou levantar os recursos.

“Minha maior dificuldade pré-escalada foi alcançar o recurso financeiro para essa empreitada. O recurso financeiro para essa montanha é altíssimo para quem tinha R$0 na conta para esse sonho e [a dificuldade] foi justamente ter que trabalhar sete dias por semana na reciclagem de materiais, encontrar horários no dia para treinar seis dias na semana, e horário no dia para trabalhar na Grade6 [operadora de montanhismo de Campinas]”, conta. Ela diz que recolhia aproximadamente 500 quilos de recicláveis por dia, o que fez com que conseguisse, após alguns meses, parte do dinheiro necessário para a expedição.

Aretha diz que voltou do Everest com uma mentalidade mais resiliente, mais forte, pronta para contribuir para o próximo. Além do Everest, Aretha já escalou o Monte Kilimanjaro, na Tanzânia; o Monte Aconcagua, na Argentina; o Monte Elbrus, na Rússia; o Monte Roraima, na Venezuela e o Alpamayo, na Bolívia.

Veja aqui a entrevista completa:

Fonte: Agência Brasil