Em dois anos, o número de empresas industriais que utilizam a tecnologia de inteligência artificial (IA) mais do que dobrou, atingindo um crescimento de 163%. A quantidade subiu de 1.619 em 2022 para 4.261 em 2024.
No primeiro semestre do ano passado, 41,9% das empresas industriais pesquisadas utilizavam IA, enquanto essa cifra era de 16,9% dois anos antes.
A constatação é da Pesquisa de Inovação Semestral (Pintec), divulgada nesta quarta-feira (24) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O levantamento foi realizado com uma amostra de 1.731 empresas do setor industrial, em um universo de 10.167 companhias com 100 ou mais empregados.
A pesquisa foi financiada pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), uma organização sem fins lucrativos. O estudo teve o apoio técnico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Flávio José Marques Peixoto, gerente de pesquisas temáticas do IBGE, relaciona o avanço da IA ao aumento do uso de IAs generativas. “Aquelas que criam conteúdos, texto, imagens”, afirma.
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Ele acrescenta que, entre as duas pesquisas, houve o lançamento do ChatGPT, em novembro de 2022, e sua difusão em 2023, um software de IA que simula conversas e cria conteúdos. “Esse fato contribuiu para o aumento da disponibilidade”, assinala.
Flávio Peixoto menciona outras formas de inteligência artificial que têm ganhado espaço nas empresas industriais, como mineração de dados, reconhecimento de fala, reconhecimento de processos de imagem, geração de linguagem natural (GLN), aprendizado de máquina (machine learning), automação de processos e fluxos de trabalho.
“Um aspecto particularmente interessante na indústria é a manutenção preditiva, que usa IA dentro do sistema produtivo, ajudando na movimentação de máquinas e na tomada de decisões de forma autônoma”, descreve.
Perfil das empresas
O IBGE constatou que o uso de IA é mais comum em empresas maiores. Nas que possuem 500 ou mais empregados, 57,5% dessas empresas utilizam IA, superando os negócios com 250 a 499 funcionários (42,5%) e com 100 a 249 trabalhadores (36,1%).
Dentro das empresas, as áreas que mais utilizavam IA foram administração (87,9%) e comercialização (75,2%).
O IBGE também mapeou as áreas em que a IA é mais presente. No topo do ranking estão:
- Equipamentos de informática, eletrônicos e ópticos: 72,3% usam
- Máquinas, aparelhos e materiais elétricos: 59,3%
- Produtos químicos: 58%
Dos 25 segmentos pesquisados, os três com menor uso de IA são:
- Fumo: 22,9% das empresas utilizam
- Couro: 20,7%
- Manutenção, reparação e instalação de mecanismos e equipamentos: 19,2%
Tecnologias digitais avançadas
O estudo revela que 89% das empresas industriais (9.054) utilizam alguma tecnologia digital avançada.
Além da IA, o IBGE analisou a adesão a cinco outras tecnologias avançadas, todas com penetração maior que a IA, sendo que apenas duas são utilizadas por mais da metade das empresas:
- Computação em nuvem (serviço pago): 77,2%
- Internet das coisas: 50,3%
- Robótica: 30,5%
- Análise de big data: 27,8%
- Manufatura aditiva (impressora 3D): 20,3%
- IA: 41,9%
Os setores com maior e menor uso de tecnologia digital foram:
1º) Outros equipamentos de transporte: 98,3%
2º) Máquinas, aparelhos e materiais elétricos: 97%
3º) Impressão e reprodução de gravações: 96%
23º) Fumo: 77,8%
24º) Madeira: 76,2%
25º) Celulose, papel e produtos de papel: 73,5%
Total da Indústria: 89,1%
A pesquisa identificou que 20,8% das empresas usavam apenas uma tecnologia digital avançada, enquanto 27,3% adotavam duas. Apenas 5% das companhias utilizavam as seis tecnologias.
A tecnologia mais utilizada por aquelas que adotavam apenas uma era a computação em nuvem, com 64,5% das empresas.
Benefícios alcançados
A Pintec também procurou saber dos empresários sobre os benefícios obtidos com a utilização de tecnologias digitais. Nove em cada dez empresas mencionaram aumento de eficiência, enquanto menos da metade apontaram a entrada em novos mercados.
- Aumento da eficiência: 90,3%
- Maior flexibilidade em processos administrativos, produtivos e organizacionais: 89,5%
- Melhoria no relacionamento com clientes e/ou fornecedores: 85,6%
- Maior eficácia no atendimento ao mercado: 82,9%
- Maior capacidade de desenvolvimento de novos produtos ou serviços: 74,7%
- Redução do impacto ambiental: 74,1%
- Entrada em novos mercados: 43,8%
- Outros: 1,5%
Motivação
Ao investigar o que motivou as empresas a adotarem as tecnologias, o IBGE observou que 88,6% delas indicaram ser uma decisão estratégica autônoma. Para 62,6%, o motivo foi a influência de fornecedores e/ou clientes, enquanto 51,9% mencionaram a concorrência e 28% a atratividade de programas de apoio, sejam públicos ou privados.
Apesar do aumento da atratividade de programas de incentivo, “poucas empresas (9,1%) se beneficiaram de programas de apoio público”, destacou o IBGE.
Questão de sobrevivência
Flávio Peixoto avalia que o resultado é indicativo de que, mais do que conquistar novos mercados, a adesão às tecnologias digitais avançadas é uma questão de sobrevivência no ambiente atual.
“Quando há demanda dos fornecedores e clientes para adotar certas tecnologias que se integrem, principalmente em logística, a empresa precisa seguir esse movimento ou será excluída dessa cadeia”, observa.
O pesquisador exemplifica a situação na indústria automobilística. “O cliente realiza um pedido, que reflete em toda a cadeia, mas isso só acontece se as tecnologias estão sendo usadas de maneira integrada”, detalha.
Custo e mão de obra
Entre as empresas industriais que utilizam tecnologias digitais avançadas, 78,6% relataram que os altos custos das soluções tecnológicas dificultaram a adoção. A falta de pessoal qualificado foi mencionada por 54,2%.
Entre as empresas que não utilizam essas tecnologias, os principais fatores impeditivos também foram os altos custos, citados por 74,3%, e a falta de pessoal qualificado, mencionada por 60,6%.
Menos teletrabalho
A pesquisa do IBGE identificou que, em dois anos, o percentual de empresas do setor industrial que adotaram o teletrabalho caiu. Em 2022, 47,8% das companhias tinham esse regime. Em 2024, o percentual passou para 43%, representando 4.357 empresas.
O teletrabalho era mais comum em empresas com 500 ou mais empregados (65,3%). Nas que tinham entre 250 e 499 funcionários, o percentual era de 39,1%, superando as empresas com 100 a 249 trabalhadores (36,3%).
Nas áreas de administração (94,6%) e comercialização (85%), o teletrabalho era mais frequente, enquanto setores de produção (35,5%) e logística (51,7%) apresentavam números menores.
Fonte: Agência Brasil