A relação entre arte, cultura e educação como eixo estratégico para o desenvolvimento humano foi o centro dos debates do terceiro dia do II Encontro Nacional de Gestores da Cultura, nesta sexta-feira (25), em João Pessoa. O evento, que reúne gestores culturais de todo o país, contou com a mesa temática Arte, Cultura e Educação: Um Diálogo para o Desenvolvimento Humano, dentro do ciclo de painéis Diálogos Necessários — espaço dedicado à discussão de temas fundamentais para o fortalecimento das políticas culturais no Brasil.

A mesa foi mediada por Pedro Santos, secretário de Cultura da Paraíba, que destacou a importância do tema. 

“Falar de cultura e educação, ou melhor, de arte, cultura e educação, é falar de desafios, de possibilidades e de experiências concretas. Acredito que teremos um momento potente de trocas e aprendizados”, afirmou.

Cultura, um caminho para a transformação

“Se a cultura pode curar, é nossa responsabilidade fortalecê-la”. A afirmação do secretário de Formação, Livro e Leitura do Ministério da Cultura (MinC), Fabiano Piúba, sintetizou a potência do painel.

Em sua intervenção, Piúba reforçou que arte, cultura e educação são dimensões indissociáveis do desenvolvimento humano. 

“Quando falamos de arte, cultura e educação para o desenvolvimento humano, também falamos de desenvolvimento da natureza, porque nós somos natureza”, afirmou. Para o secretário, é urgente consolidar uma “cosmovisão” para as políticas culturais, tendo o Sistema Nacional de Cultura como eixo estruturante.

“A cultura e a educação são frutos da mesma árvore do conhecimento. Quanto maior a presença da arte e da cultura na vida de crianças e jovens, melhor será nossa educação”, pontuou Piúba. Segundo ele, o MinC e o MEC estão articulando ações como a retomada do programa Mais Cultura nas Escolas, a formação de cineclubes, a promoção da leitura criativa, além da certificação de mestres da cultura popular.

O músico e arte-educador, Escurinho, emocionou o público ao relatar sua trajetória e os desafios enfrentados por quem se forma em música.

“Sou estudante de licenciatura em música. Estou me preparando para ser professor. Quero dar aula. Aula de música. Mas, para isso, preciso de espaço”, disse.

Ele lembrou que a história do Brasil foi moldada por estruturas de exclusão e violência, e destacou a necessidade de romper com essas lógicas. “A nossa sociedade foi construída sob o símbolo da escravidão, e isso ainda nos atravessa profundamente. O racismo é um mal que nos afeta como indivíduos e como sociedade”.

Cultura e universidade

Representando o ensino superior, Bernardina Freire, pró-reitora de Extensão da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), destacou que a instituição incorporou recentemente a cultura como seu quarto pilar, junto ao ensino, à pesquisa e à extensão. 

“Cultura não se faz sem recursos. Cultura não é feita ‘do nada’, apenas pela criatividade. É preciso respeito. É preciso investimento”, afirmou.

Bernardina relatou que a UFPB tem expandido suas ações de cultura para mais de 120 municípios, mesmo onde não há campi físicos, e defendeu a importância de incluir a cultura nos planos de desenvolvimento institucional das universidades públicas. 

“Pela primeira vez, em 70 anos de história, o Plano de Desenvolvimento Institucional da UFPB reserva recursos específicos para a cultura”, disse.

Resistência e educação

Vindo da região Norte, Maick Soares, do Fórum Estadual dos Secretários e Coordenadores de Cultura do Amazonas, trouxe a realidade dos territórios amazônicos para a roda de conversa. “Para muitos dos nossos municípios, a cultura é o primeiro,  e muitas vezes o único, canal de acesso à educação não formal”, ressaltou.

Segundo ele, na Amazônia, artistas são também professores, contadores de histórias e produtores culturais. “A cultura, na Amazônia, é um exemplo vivo de ensino, de aprendizagem e de emancipação social”, disse. E defendeu a necessidade de políticas públicas que considerem as especificidades regionais e que reconheçam oficialmente o saber tradicional como legítimo.

“A cultura precisa ser tratada como o básico,  como o feijão com arroz. Não pode ser vista como algo opcional, para ser lembrado apenas ‘se sobrar’. Ela precisa estar no centro da vida pública”, concluiu.

Também participaram da mesa a arte-educadora Mestra Doci, a representante do Instituto Futuros Luciana Adão e o diretor da Fundação Itaú, Eduardo Saron.

Sobre o II Encontro Nacional de Gestores da Cultura

O II Encontro Nacional de Gestores da Cultura é realizado pelo Fórum Nacional de Secretários e Dirigentes Estaduais de Cultura, com co-realização da Secretaria de Estado da Cultura da Paraíba. Conta com o patrocínio da Fundação Itaú, a parceria do Fórum Nacional de Secretários e Gestores de Cultura das Capitais e Municípios Associados e da Rede Nacional de Gestores Municipais de Cultura, além da cooperação da UNESCO e apoio da OEI, do Empreender Paraíba e do Ministério da Cultura.



Fonte: Ministério da Cultura