Durante dois dias, servidores do Ministério da Cultura (MinC) e representantes do Laboratório da Cultura Digital (LabCD) da Universidade Federal do Paraná (UFPR) participaram de uma oficina imersiva em Fortaleza (CE). Por meio de trocas de experiências bem-sucedidas e visitas técnicas, a atividade visou a formulação de uma política de Linguagem Simples – técnica usada para transmitir informações de maneira simples, objetiva e inclusiva -, dentro da Pasta.

Pioneiro na aplicação desse formato de comunicação, o Ceará sancionou em dezembro de 2022 a Lei Nº 18.246/2022, que torna a adoção desse formato de comunicação uma política de estado. O Instituto Mirante, organização social criada em 2021 hoje presidida por Tiago Santana, é responsável pela gestão de uma rede de equipamentos que atendem às determinações. O Kuya – Centro de Design é um deles. E foi lá que o grupo formado pelo MinC e pela UFPR iniciou a oficina formativa na manhã da quinta-feira (4).

A partir da troca de experiências e sugestão de soluções aplicáveis à realidade do setor cultural, um mural digital colaborativo foi montado com caminhos possíveis para aproximar as entregas do Ministério de seu público final de forma direta e objetiva.

Isabel Ferreira Lima, coordenadora de Experiência e Linguagem da área de Inovação + Governança, do Instituto Mirante, foi a responsável pela condução da atividade. Ela comemorou os resultados alcançados com o grupo. “Esse encontro fez vibrar algo muito potente: a articulação em rede de diferentes atores, que pensam e executam a Cultura. Exploramos como os processos de design e a técnica da Linguagem Simples podem impulsionar o acesso à cultura, além de sua institucionalização e democratização”, avaliou.

À tarde foram realizadas duas visitas técnicas no Complexo Estação da Artes. Primeiro no Museu Ferroviário João Felipe, seguido pela Pinacoteca do Ceará, que atualmente abriga a mostra Bonito pra Chover, composta pelas exposições No Lápis da Vida Não Tem Borracha, em homenagem aos 100 anos de nascimento do artista Aldemir Martins; e Amar se Aprende Amando, em homenagem aos 100 anos de nascimento do artista Antonio Bandeira.

“O que me impressiona no evento é a dinâmica e a compreensão dos participantes em relação ao assunto, que é muito importante para a situação real da população que promove a sua cultura. O que percebo é que a Linguagem Simples vai muito além da língua portuguesa, pois o Brasil possui sua diversidade linguística em suas manifestações culturais”, afirma Valdo Nóbrega, chefe de Divisão de Acessibilidade Cultural.

Muitas obras visitadas contavam com QR codes para audiodescrição, ícones que indicavam seus nomes em Língua de Sinais, além de representações em escala reduzida com relevo para sinalizar a profundidade das peças às pessoas com baixa visão, uma vez que Linguagem Simples também se integra à acessibilidade voltada à pessoa com deficiência.

Segundo dia

O segundo dia da imersão contou com uma visita ao Íris – Laboratório de Inovação e Dados, localizado no Palácio da Abolição, sede do governo cearense. O espaço se propõe a experimentar, cocriar e estimular novas maneiras de fazer. Coube ao Íris a elaboração da edição da Lei Estadual de Linguagem Simples do Ceará – a primeira nesses moldes no mundo. Também foram eles os responsáveis pela versão simples do edital Prêmio Maria Carolina de Jesus (PMCJ), primeiro instrumento lançado pelo MinC após sua reestruturação em 2023.

.Foto: MIS/CE

A coordenadora-geral do Íris, Karine Gurgel, guiou o bate-papo sobre o tema, compartilhou exemplos mais recentes de aplicação da Lei no estado e sanou dúvidas dos participantes da imersão. “É possível fazer linguagem simples. É possível, é necessário, é urgente. É boa vontade e algo que realmente não se depende tanto quanto se imagina. É mais uma questão de quebra de paradigmas, de disponibilidade e pré-disposição para uma mudança cultural. Falar simples é o natural da gente”, aponta.

E completa: “É um processo que a gente precisa avançar para que tenhamos resultados mais expressivos, para que a gente tenha políticas públicas mais amplamente difundidas e utilizadas e, consequentemente, a população beneficiada”.

“Pensar a Linguagem Simples é pensar em toda a jornada do processo de desenho de políticas públicas. É a capacidade de unirmos o conhecimento científico, as necessidades da população e do governo. Fazer com que essas três instâncias se comuniquem e se beneficiem. Ela é o caminho para modelar e efetivar as políticas públicas”, avaliou Camila Rezende, coordenadora de Linguagem Simples do Laboratório de Cultura Digital da UFPR.

.Foto: CCMJ

A coordenadora-Geral de Parcerias da Cultura Viva, da Secretaria de Cidadania e Diversidade Cultural do MinC, Iara Zannon, lembrou que, por estar em contato com diversos segmentos e públicos das culturas populares e tradicionais, culturas indígenas, quilombolas, ciganas, de matriz africana e de terreiro, economia criativa, produção cultural urbana e periférica, cultura digital, cultura da infância e da juventude, entre outras; a equipe da Secretaria realiza ações de simplificação de documentos para atender a esse público há mais de sete anos. Exemplos disso são as cartilhas em formato simplificado para os editais de seleção, materiais específicos para elaboração de projetos no âmbito da diversidade cultural e oficinas e reuniões com parceiros. “A imersão foi muito rica, tanto para aprendizagem técnica, quanto para troca de experiências. A SCDC atua com a cultura de base comunitária e políticas para reconhecer, valorizar e promover saberes e fazeres culturais. Ela contribuiu para pensarmos na capacitação dos servidores e colaboradores do MinC, para construirmos uma cultura organizacional, permitindo ampliar o acesso às informações”, apontou.

Cultura e território

O destino seguinte foi o Centro Cultural Bom Jardim (CCBJ), vinculado à Secretaria de Cultura do Estado do Ceará. Construído com base comunitária e gerido pela Organização Social Instituto Dragão do Mar (IDM), o espaço atende moradores dos bairros Canindezinho, Granja Lisboa, Bom Jardim, Granja Portugal e Siqueira, onde moram mais de 210 mil pessoas, de acordo com o Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Entre as atividades culturais, artísticas e educacionais ofertadas, gratuitamente, duas chamam a atenção: o núcleo de Acessibilidade e o Laboratório de Cultura Digital. Este último oferece cursos formativos em ciência da computação a crianças e jovens entre 11 e 15 anos. Com duração de três anos, as aulas abordam temáticas como programação, gameficação e tecnologia de forma simples e acessível. “A gente é influenciado pela arte, dança, teatro. E trabalhamos com tudo isso aqui”, explica Gabura, professor responsável pelo espaço. Nesta semana, as turmas realizaram o Mostra Jardim de Arte Digital 2024 – vivências compartilhadas e coletivas, em espaços compostos por imagens e sons, com objetivo de despertar diferentes sentimentos e sensações estéticas e lúdicas nos espectadores.

Marcos Levi Nunes, gestor Executivo do espaço, destaca que o foco é, para além de fazer, alcançar a audiência das pessoas daqueles territórios, com seus mais variados perfis, vivências e necessidades. “Para nós, é fundamental entender para onde estamos direcionando esse olhar para a cultura digital. O olhar de crianças e jovens que passam a ver isso como acessível em sua realidade, sem distanciamento e de forma descomplicada”, afirma.

“Foi um espaço importante para conhecer e debater experiências e informações sobre tecnologia e ferramentas de design de políticas e a utilização de Linguagem Simples nesse processo de elaboração. Sobretudo em editais, que são importantes para o gestor, para quem acessa a política. Facilita o entendimento e o acesso a essa políticas”, concluiu Xauí Peixoto, coordenador-Geral dos Comitês de Cultura do MinC.

O grupo conheceu, ainda, as instalações do – auto intitulado – ponto de cultura Barraca Foi Sol. Comandada por Alécio Fernandes, o Pretim Dalest, o espaço aposta no empreendedorismo coletivo como ferramenta de mudança social e promove ações sociais na praia da Leste Oeste, que banha uma parte de Fortaleza onde está concentrada a sétima maior favela do Brasil, o Pirambu.

Foto: MIS/CE

A última etapa da visita se deu no Museu da Imagem e do Som (MIS) do Ceará. Depois de um encontro com a secretária de Estado da Cultura, Luisa Cela, o grupo do MinC e da Federal do Paraná visitaram as instalações da exposição Quando o Sertão Ganhou o Mar, A obra de Humberto Teixeira; e Aves do Ceará, instalação imersiva de VJ Suave.

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Fonte: Ministério da Cultura