Elemento estruturante da cultura Hip-Hop, o grafite faz jogo de cena em cidades do Brasil e do mundo por meio de intervenções repletas de conteúdos sociais. Neste Dia Internacional do Graffiti, 27 de março, o Ministério da Cultura (MinC) destaca a relevância dessa arte como referência para a cultura popular brasileira.

Sinônimos de liberdade de expressão, as intervenções artísticas em espaços públicos ganharam também museus, galerias de arte e fazem parte até do cenário do gabinete da ministra da Cultura, Margareth Menezes, em Brasília, com os dizeres “Hip-Hop vive”, da artista Miah, em alusão aos 50 anos do Hip-Hop no Brasil.

Graffiti Miah. Foto: Victor Vec/MinC

A chefe da Cultura lembra que o grafite se faz presente nas pequenas cidades ou em galerias de arte pelo mundo. “O grafite é uma manifestação social e cultural potente, que carrega força, representatividade e a história de uma cultura. Ele quebrou o estigma de arte marginal e passou a ocupar galerias de arte pelo mundo, abrindo as portas para debates sociais, desenvolvimento cultural e social urbano”, afirmou Margareth Menezes.

O artista Airá OCrespo atua há mais de 20 anos como grafiteiro, MC e produtor cultural. Ele conta que o grafite vem, segundo os historiadores, desde o período pré-histórico, com as pinturas rupestres, teoria absorvida também pelos grafiteiros. “A gente tem como grafite, genuinamente, as marcas que são produzidas pelos seres humanos, civilizações, e que são feitas na forma de manifestação livre. A gente tem como grafite no decorrer da história, passando por diversas civilizações, até, atualmente, o que está aí representado pelas pichações, pelos atos que hoje em dia são ditos como vandalismo, mas a gente entende que é o grafite. A arte urbana, por outro lado, ela já incorpora elementos de outros fazeres, tanto de técnicas, como também no sentido estético e até mesmo conceitual para criar esse movimento que vem se disseminando bastante atualmente”.

Airá é curador da Ocupação Graffiti ao vivo Ruadentro, realizada nesta semana na Sala do Artista Popular (SAP) do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP) do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), vinculado ao MinC, no Rio de Janeiro. O artista convidou três artistas das artes urbanas para criar pinturas com spray. O evento celebra, junto com o Roteiro de Arte Urbana, o Dia Internacional do Grafite.

“Está sendo muito legal essa oportunidade de fazer essa ocupação de grafite na sala do artista popular, estou fazendo a curadoria de um trabalho coletivo, mas que tem uma proposta diferente porque, dessa vez, a gente quer levar a pintura ao vivo e, através de um diálogo, elucidar um pouco desse nosso universo do grafite e da arte urbana para o público”, conta o curador.

O diretor do CNFCP, Rafael Barros, explica que o Centro já vem costurando uma relação com a arte urbana no Rio de Janeiro, sobretudo com a arte do grafite. “Um desses elementos do movimento Hip-Hop, dentro dos debates sobre os transbordamentos do conceito de arte e cultura popular. Para homenagear essa data emblemática, ainda dentro do marco de comemoração dos 50 anos do movimento Hip-Hop no Brasil. Com o objetivo de aproximar o artista urbano do espaço museológico e do público que frequenta o museu e é isso que a gente está fazendo nesses três dias”.

O roteiro propõe uma caminhada pelos grafites em diversos pontos entre os bairros do Catete e Lapa, acompanhada pelo artista Airá Ocrespo e pelos professores do Projeto Roteiros Geográficos do Rio.

Na programação, a exposição Os objetos e suas narrativas no Museu de Folclore Edison Carneiro, criado por Airá e pelos artistas Marcelo Ment e ACME, serão percorridas manifestações artísticas que transformam muros em telas. São grafites, murais, pichações e intervenções, com enfoque ainda nos aspectos históricos e culturais que envolvem as regiões percorridas.

Ocupação RUADENTRO.Foto:Oscar Liberal/IPHAN

Cultura Hip-Hop

A cultura Hip-Hop e os seus elementos e fatores artísticos e sociais, criados, desenvolvidos e agrupados pelas comunidades periféricas afro-americanas e latinas, são uma manifestação da cultura nacional.

“Dentro desse contexto de cultura urbana, iniciada a partir da cultura Hip-Hop e desse legado construído pela juventude negra norte-americana e que vem no mundo todo se tornando a cultura vigente, porque, na medida que as sociedades vão tendo contato, se modernizando e atualizando seus fazeres artísticos, eu acho que a cultura Hip-Hop e as características que ela possui acabam influenciando esses fazeres e por consequência traz também toda uma carga estética de linguagem, de comportamento de moda, de atitude e de filosofia, também. Então, acho que uma série de coisas que a cultura Hip-Hop dissemina e dentro desse contexto de mercado ela acaba sendo apresentada como uma cultura urbana e isso acaba realmente se tornando algo que influencia e norteia essa cultura jovem contemporânea que vem se criando”, afirma Airá.

O artista explica que o grafite chegou em sua vida através da pichação “E eu vi que através da pintura, através da arte, eu conseguiria me comunicar com mais pessoas. O meu desejo, mesmo na época de rabiscos, sempre foi espalhar mensagens. Então, eu vi que, desenhando, eu conseguiria espalhar mais mensagens e atingir mais gente e, nisso, foi se ampliando um novo horizonte para minha vida através da cultura Hip-Hop”.

“O grafite é uma forma, tanto de garantir expressão, da galera que não tem uma arte academicista, tem uma outra escola mais livre espontânea como ele também ele acaba permitindo que essas pessoas periféricas elas tenham esse estímulo da apreciação artística. Porque, talvez, ele seja uma das únicas manifestações de artes visuais ou plásticas que chegam nesses territórios. Então, ele sai daí e se espalha para as cidades como um grito e, a partir desse grito, isso acaba sendo ouvido pela sociedade como um todo, e influenciando outras correntes das artes visuais”, conclui.

Decreto de Valorização da Cultura Hip-Hop

Em novembro de 2023, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, sancionou o Decreto que dispõe sobre as diretrizes nacionais para as ações de valorização e fomento da cultura Hip-Hop no país.

O documento estabelece conceitos e elementos estruturantes da cultura Hip-Hop e diretrizes nacionais no âmbito das políticas públicas de cultura, como: promover a valorização dos agentes culturais do Hip-Hop, incluídos os B-boys e as B-girls; valorizar, incentivar, apoiar e dar visibilidade à criação, ao intercâmbio, à produção e à difusão das obras artísticas e culturais do Hip-Hop e dos seus elementos; fomentar o desenvolvimento da cultura Hip-Hop como uma política de Estado; estimular o empreendedorismo e a geração de renda a partir das atividades relacionadas à cultura Hip-Hop; entre outros.

Também, em 2023, o MinC lançou o Edital Prêmio Cultura Viva Construção Nacional do Hip-Hop. Com investimento de R$ 6 milhões em 325 iniciativas, a ação tem o objetivo de implementar as ações da Política Nacional Cultura Viva (PNCV), com destaque para o reconhecimento dos agentes culturais que promovem a preservação, a difusão da diversidade cultural, bem como a valorização das expressões culturais do Hip-Hop no Brasil. E, ainda, ampliar a rede dessa política com a valorização e o incentivo aos agentes Cultura Viva e aos Pontos de Cultura em redes territoriais e temáticas.

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Fonte: Ministério da Cultura