O tombamento de terreiros de religiões de matriz africana foi tema de mesa-redonda realizada nesta quinta-feira (27), pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O evento abordou a importância histórica e cultural desses espaços religiosos, discutindo os desafios enfrentados no processo de reconhecimento e proteção dos terreiros no Brasil.   

Na ocasião, o presidente do Iphan, Leandro Grass, parabenizou a iniciativa e destacou a importância de atuar no tema de forma proativa. “Além de trabalhar junto aos quilombos e terreiros, é fundamental envolver toda a sociedade nesse processo de conscientização sobre o que representa esse patrimônio, de forma que a gente crie um ambiente geral de respeito, valorização, troca e partilhas entre a população”, sublinhou. 

O encontro, que ocorreu de forma híbrida (on-line e presencial), contou com a participação de especialistas, representantes de comunidades religiosas e autoridades do Iphan. Eles discutiram estratégias para fortalecer a proteção legal dos terreiros e garantir o respeito às tradições religiosas de matriz africana.  

mesa-redonda também serviu como uma forma de compartilhar experiências e boas práticas em preservação, de modo a ampliar o diálogo sobre a importância desses espaços no contexto da cultura brasileira. 

A coordenadora-geral de Promoção e Sustentabilidade do Iphan, Alessandra Rodrigues Lima, abordou o tema O Iphan e o patrimônio de matriz africana e propôs a reflexão sobre duas perguntas: “O reconhecimento e a valorização do patrimônio de comunidades tradicionais de matriz africana incidem sobre as discussões étnicoraciais? Qual a importância da produção de conhecimento sobre patrimônio cultural de matriz africana e suas características para a construção de instrumentos de gestão mais alinhados a esse patrimônio?”, indagou. 

Em sua fala, ela mencionou ainda o Acervo Nosso Sagrado – uma coleção de cerca de 500 peças de religiões de matriz afrobrasileira, atualmente sob a guarda do Museu da República, no Rio de Janeiro – que era tratado, de forma discriminatória, como “Coleção Magia Negra”. “Quando a gente reconhece determinado bem cultural, a gente comunica algo para sociedade. Se estamos tratando sobre um museu de magia negra, com esse nome, no final dos anos 1930, estamos trabalhando com uma lógica higienista e policialesca”, pontuou a pesquisadora.  

Alessandra enfatizou a importância de se romper essa lógica e comunicar uma informação diferente daquela época, valorando os bens dessa natureza de forma positiva, sem o olhar repressor expressado naquele contexto.  

Em um esforço de reparação histórica, o Acervo Nosso Sagrado passará por um processo de pesquisa com o objetivo de produzir um dossiê para subsidiar a rerratificação do seu tombamento, concedido pelo Iphan em 1938. A rerratificação é uma revisão do tombamento para alterar o escopo do reconhecimento, eliminando a visão discriminatória e ressignificando o valor de um bem cultural. 



Fonte: Ministério da Cultura