Projeto fomentado por ações de incentivo e apoio a ações continuadas do Ministério da Cultura, o Galpão Bela Maré se tornou um espaço de escuta entre comunidade e representantes do Governo Federal nesta sexta (8). Situado em Nova Holanda, no Conjunto de Favelas da Maré, no Rio de Janeiro, o espaço cultural recebeu a visita da primeira-dama, Janja Lula da Silva, acompanhada do secretário-executivo do Ministério da Cultura (MinC), Márcio Tavares, e da ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco.
A secretária de Articulação Federativa e Comitês de Cultura (SAFC), Roberta Martins, o presidente da Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur), Marcelo Freixo, e o secretário municipal de Cultura do Rio de Janeiro, Lucas Padilha, também integraram a comitiva.
A ideia, além de conhecer o trabalho realizado pelo Galpão, que é pautado pela democratização e difusão das múltiplas expressões artísticas, era ouvir a demanda da população e entender de que forma as políticas públicas estão impactando o território. Lideranças e agentes culturais da comunidade da Maré estavam presentes para receber os convidados e representar os moradores das favelas.
“A única que não tem caneta nem tinta aqui sou eu, mas eu tenho voz. E a minha voz, desde o primeiro dia do governo do presidente Lula, eu uso para conversar com as pessoas que têm a caneta, do presidente aos ministros. Eu tenho um diálogo sempre muito franco e aberto com os ministros com relação às pautas que chegam para mim”, declarou Janja.
E continuou: “o Ministério da Cultura talvez seja um dos exemplos mais claros de retomada que a gente tem no governo Lula e que atinge diretamente aqui o trabalho que vocês fazem no Complexo da Maré. Não é à toa que o lema do Governo Federal é União e Reconstrução. E reconstruir tudo isso tem sido tarefa árdua e diária”.
Durante a conversa, o secretário-executivo do MinC pontuou as ações do MinC para descentralizar o acesso a políticas públicas de cultura e de levar equipamentos culturais similares ao Galpão Bela Maré para os territórios periféricos.
“A gente está fazendo uma mudança significativa para fazer com que a lei seja menos concentrada nas regiões centrais e passe a atuar, a ter mais presença nas periferias. Na Política Nacional Aldir Blanc, por exemplo, pelo menos 20% dos recursos têm que ser investidos nas áreas de periferia. Estamos construindo também 195 CEUs da Cultura, que são equipamentos que tem mais ou menos o tamanho aqui do Bela Maré. E eles foram projetados justamente para se instalar em regiões que têm terrenos pequenos, em periferias, e que tenha impacto social, que ajude a articular a comunidade”, explicou.
Comunidade
O geógrafo Jailson de Souza, um dos fundadores do Observatório das Favelas, participou da conversa. “Um agradecimento ao Governo Federal por essa sensibilidade, por essas pessoas aqui absolutamente engajadas, comprometidas com a nossa história. Mas, a gente precisa criar políticas comuns, capitalizadas, que trabalhem na dimensão da cultura, da comunidade, da comunicação e do direito. Esse é o desafio, espero que esse encontro aqui nos ajude a produzir essa política”, afirmou.
Moradora da Maré, Kaê Guajajara saiu da aldeia no Maranhão ainda criança e cresceu na Maré. Ela lembrou que é importante que as políticas públicas incluam pessoas indígenas não aldeadas. “Nós estamos vivos, independentemente de não estarmos dentro de uma aldeia demarcada. Então, o maior desafio que eu percebo acontecendo é quando a gente vai tentar escrever algum projeto, alguma coisa que é pra temática indígena e cobra o que a gente tenha vindo de um território demarcado. A gente precisa que as políticas públicas acompanhem o nosso corpo e não fiquem só presos lá no território demarcado”.
Fernanda Viana, integrante da Redes da Maré, também aproveitou o espaço de escuta para demonstrar como políticas de cultura já resultaram em mudanças concretas na comunidade. “Hoje estou na coordenação de uma casa chamada Casa Preta da Maré, onde a gente se propõe a sistematizar, a problematizar, ampliar a consciência crítica do morador de favela. Isso só é possível porque instituições como o Bela Maré apostam em pessoas que moram aqui. Então, esse compromisso do Governo Federal em estar aportando, em estar apostando, em estar dialogando horizontalmente com a gente faz todo o sentido”
A secretária da SAFC do MinC, lembrou da importância de transformar o resultado das escutas em material institucional. “Essa forma de diálogo, mais ligada à sociedade, ela tem que gerar institucionalidade posteriormente. É importantíssimo que a gente recomponha locais de articulação desse discurso para que a gente não se distancie. O contato diário precisa se transformar em algo que seja materialidade para os nossos territórios, transformação para as nossas famílias coletivas, aquelas que são de sangue, e as que a gente constrói. E, sobretudo, de fortalecimento dos nossos discursos coletivos”, destacou Roberta Martins.
Soberania e cultura
Para o secretário municipal de Cultura, Lucas Padilha, o momento é importante para reforçar a soberania nacional por meio da cultura. “Os valores desse país são valores que não estão nas mãos daqueles que levantam outras bandeiras que não sejam as bandeiras da inclusão, a bandeira da cidadania e a bandeira nacional brasileira. Esse país é um sonho intenso. E se ele é um sonho intenso é porque tem gente como vocês, que sonham todos os dias”.
A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, que nasceu na Maré, fez questão de enaltecer as origens e destacar, no encerramento do evento, a importância da cultura no cotidiano das periferias.
“Esse tipo de escuta fortalece a gente e faz a gente entender que essa missão aqui, mesmo sendo pesada, vale a pena. Então, que vocês possam se reconhecer na gente, assim como a gente se reconhece em vocês. A gente tem um legado muito grande que é de transversalizar e racializar muitas pautas dentro do Governo Federal. A ministra Margareth Menezes também abraçou isso, dentro dos Céus da Cultura, a gente tem conseguido fazer essa parceria. A cultura é racializada, e ela é esse lugar de resistência pro nosso povo”, declarou.
Fonte: Ministério da Cultura